quinta-feira, 22 de abril de 2010

Violência policial em protesto na Câmara Legislativa do DF

Diante da truculência e da violência policial da PM-DF durante manifestação da população brasiliense em frente à Câmara Legislativa do DF, assolada por denúncias de corrupção em diversos níveis (político, moral, social, ambiental), nosso querido amigo e ativista de diversos movimentos sociais, Diogo Ramalho, foi preso e torturado física e psicologicamente. A manifestação aconteceu no dia 17 de abril de 2010, sábado. Abaixo, reproduzimos a carta pública que o Diogo escreveu. O Brasília Sempre-Viva repudia a violenta ação da polícia militar, sempre disposta a bater em cidadãos que estão na legitimidade do seu direito de se manifestar publicamente contra o absurdo que foi a eleição indireta do novo governador e da vice-governadora do DF. Intervenção Federal Já! Pela legitimidade da representativade do povo no Poder Executivo!

Clique no título do post para ver o vídeo da ação da PM-DF durante o protesto!

DO PROTESTO À TORTURA

Sábado, dia 17 de Abril de 2010, foi mais um dia que entrou para a História do Distrito Federal, dentro do contexto da maior crise Institucional-Política já enfrentada pela Capital desde sua Fundação, 50 anos atras. Os protestos se iniciaram na sexta-feira a noite, através de uma vigília convocada pelo Movimento Fora Arruda e Toda Máfia em frente à Câmara Legislativa do Distrito Federal. Na vigília houve músicas, brincadeiras como Mímica e reflexões.

O sábado começou agitado, das cerca de 30 pessoas que dormiram na vigília, às 14h da tarde o número saltou para quase 300 pessoas , uma hora antes de iniciar a seção da Câmara que elegeu o escolhido de Arruda pra Governar Interinamente o Distrito Federal até 31 de Dezembro. Estudantes, trabalhadores, cidadãos vieram de toda parte do DF protestar contra uma eleição totalmente ilegitima, que dos 24 votantes do seu colégio eleitoral, 10 parlamentares e suplentes foram flagrados na Operação Caixa de Pandora: a Eurides da Bolsa, o Geraldo Naves que saiu da Penitenciaria 4 dias antes da votação, entre outros.

Às 15h, quando iniciava-se a seção dentro da Câmara, na rua que dá acesso à CLDF manifestantes atearam fogo em pneus interditando por 10 minutos a via. Às 16h dezenas de manifestantes tentaram entrar na galeria para garantirem o ideal democrático de que na casa do povo, o povo, não pode ser impedido de entrar, ainda mais quando em nome dele, corruptos decidem. A resposta imediata da polícia militar, sobre o comando do Coronel Silva Filho (aquele que em 09 de Dezembro, a mando de Arruda, massacrou com cavalaria e muita violência 5mil cidadãos que protestavam em frente ao Palácio Buriti) foi de repressão violenta, cacetadas para todo lado, gás de pimenta, socos e pontapés. 20 pessoas ficaram feridas, 8 tiveram que ser atendidas em hospitais, 2 policias se feriram, 6 pessoas foram presas. Eu fui o segundo a ser preso.

Quando prenderam o primeiro companheiro, eu era um dos que gritavam para soltá-lo, e gritei bem forte várias vezes “Vocês têm que prender os filhos da puta que estão aí dentro votando em nosso nome”. No meio do caos, muita confusão, um tenente já conhecido meu de outros protestos, olhou no meu olho enfurecido e disse que prenderia a mim. Eu disse “Prende então, não estou fazendo nada”. Fui preso por desacato a autoridade.

A PM estava enfurecida, mas fui conduzido primeiro para a 2º DP, onde já encontrei rapidamente com o advogado do Movimento Fora Arruda e Toda Máfia, que me orientou a ficar em silêncio até a chegada dele na DRPI, para onde eu estava sendo transferido, pois era um direito constitucional meu. Fiquei 30 minutos na viatura, sem sofrer qualquer violência dos Policiais Militares. Chegando na DRPI, ainda sozinho, na presença apenas dos 3 policiais militares e 3 policiais civis, sentei-me no banco e aguardei, então começou a tortura moral. O policial civil agente Barcelar, que me torturou fisicamente momentos adiante, iniciou o dialogo com os policias militares dizendo que esses baderneiros deviam ser todos viados, porque ao invés de estarem em casa fudendo uma mulher, estavam nas ruas protestando, e aí seguiram-se as ofensas verbais, eu, calado.

Num dado momento o agente Barcelar me perguntou se minha identidade era do Distrito Federal, eu disse que era de Minas Gerais, aí, mais ofensas “O que você tá fazendo aqui seu merda? Você nem de Brasília é seu bosta e tá protestando, puta que pariu, etc”. Em seguida perguntou meu nome para puxar minha ficha, eu disse “Só vou falar quando meu advogado chegar” isso foi o suficiente para dar início a tortura.

O agente Barcelar, (ex-carcereiro por mais de 15 anos, agora trabalhando no “Administrativo”) após a minha simples frase de que estava aguardando meu advogado, deu a volta no balcão de atendimento, foi até a cadeira em que eu permanecia sentado, me pegou pela camisa me jogando com violência no chão, rasgando toda a lateral da camisa, e já iniciando uma série de murros na cabeça, chute, e me arrastando pelos cabelos junto a outro agente da polícia civil, que eu não soube identificar posteriormente porque eu estava no chão, e as duas mãos do agente Barcelar a a mão do outro agente me arrastaram pelos cabelos, pelos corredores da DRPI, até chegar na cela, onde, por estar sendo arrastado lesionei a coluna na barra de ferro do chão da cela.

O agente bateu a porta da cela e disse que eu era um merda e que iria apanhar mais.

10 minutos depois o advogado e minha namorada chegaram, de dentro da cela eu escutava o agente Barcelar dizer que eu tinha me jogado no chão, de lá da cela eu gritava que tinha sido espancado. Quando o advogado chegou diante da cela, lhe disse que fui espancado, o agente chegou a admitir na frente do advogado, dizendo que me puxou pelos cabelos porque eu não quis fornecer os dados que me solicitou. Mais adiante, conforme mais pessoas chegaram, o agente passou a dizer que nada aconteceu, que eu estava com a camisa rasgada e com visíveis marcas de agressão porque me joguei no chão.

Depois, fui conduzido enjaulado em uma viatura da Polícia Civil até o Instituto Médico Legal, onde foram constatadas todas as agressões que sofri na DRPI. O mesmo agente Barcelar tomou meu depoimento e se negou a colocar no inquérito as agressões que sofri, colocando a si próprio como vitima, me acusando de ter resistido a prestar informações.

Eis o Estado de Direito, onde Parlamentares corruptos nunca vão, e quando vão, nunca permanecem presos. Eis o Estado de Direito, onde você vai preso por desacato por protestar, e quando chega sozinho na Delegacia de Polícia, é ofendido verbalmente e em seguida espancado covardemente na presença de 6 polícias.

Parabéns Brasília? 50 anos de Quê?

Diogo Ramalho é estudante de Letras Espanhol da Universidade de Brasília; membro do Movimento Fora Arruda e Toda Máfia; coordenador executivo e editor político do Jornal O MIRACULOSO.

Transporte, roupas e classe social

Reproduzimos aqui mais um texto muito interessante sobre o uso da bicicletas nas grandes cidades, em especial como meio de transporte.

O texto original foi publicado no blog do Ecologia Urbana, e publicado por Ogum 777.

Transporte, roupas e classe social

17/04/2010
by ogum777
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Conseguiremos fazer a classe média engravatada abandonar o uso do carro?

Ontem participei de uma reunião divertida num escritório de arquitetura, sobre um plano cicloviário para uma determinada região de São Paulo. Não cabe a este texto tratar disso, pois será melhor dedicar um post inteiro a essa alvissareira notícia.

O mais interessante nessa reunião a que compareci foi um dado fornecido pelo arquiteto Ricardo Corrêa (guardem esse nome, o rapaz é fera em urbanismo e tem a sensibilidade para saber que a cidade é feita de pessoas, não de monumentos), que trouxe uma informação interessante sobre o trânsito na Avenida Rebouças: os carros transportam apenas 4 mil pessoas por hora, nos horários de pico. Os ônibus, no mesmo horário, carregam 18 mil pessoas.

Analisemos melhor esse dado. O corredor de ônibus da Av. Rebouças é um corredor coletor de pequeno porte que funciona como se fosse um corredor de médio porte. Por isso vemos os ônibus enfileirados: o corredor está operando acima de sua capacidade. Se fosse um corredor coletor de porte médio, transportaria mais rapidamente os passageiros. E se seu porte fosse maior ainda, talvez até fosse desnecessária a linha de metrô que pssará por baixo desta avenida. Um sistema de corredores de ônibus pode carregar até 27 mil pessoas por hora, e o metrô chega a 35 mil.

Mas uma outra questão precisa ser levantada. Quererão esses 4 mil motoristas que usam os carros abandoná-los?

Ricardo Corrêa nos trouxe um outro dado interessante. Berlim, uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol, em 2006, aproveitou o evento para desestimular o uso de carros. Num raio de 3 kms dos estádios, nada entrava senão pedestres e ciclistas . Num raio ainda maior, carros não entravam.

Com isso, o berlinense aprendeu a deslocar-se sem os carros. Onde antes havia ciclofaixas e ciclovias vazias, hoje há uma grande massa de ciclistas transitando.

Mas São Paulo não é Berlim. O Brasil não é Alemanha, nem Dinamarca. Somos um país tropical, a cidade é quente. Até aí, isto não seria problema, se não tivéssemos uma sociedade estratificada, estamentada, que se aproveita da temperatura para realçar os limites entre os estamentos sociais.

Exemplifico. No século XIX, entre o meio industrial inglês, surgiu o colarinho branco como marca da estratificação social. Apenas os que ocupavam altos cargos nas empresas poderiam ostentar o colarinho alvejado, pois nos postos mais baixos o contato com a fuligem fazia qualquer peça de roupa branca enegrecer em poucos minutos. A essa mesma época, as próprias necessidades do trabalho impuseram o abandono do uso da casaca em prol de uma vestimenta que era um aperfeiçoamento das roupas dos trabalhadores rurais: o terno. Se antes as calças vinham apenas até o joelho, Lord Brummel lançou a moda das calças compridas, como aquelas usadas pelos limpadores de chaminé. Mas claro, estas calças de limpador de cahminé combinavam-se com botas polidas com champagne, com paletós negros e camisas brancas com elaborados nós de gravata. Brummel, o pai do dandismo, morre em 1840, mas deixa fincadas as raízes do uso do terno como distinção de classe, como foram as unhas compridas na antiga China: o trabalhador braçal, de baixa renda, de classe baixa, não pode usar colarinhos brancos, nem manter as unhas compridas, senão não trabalha, não come, não sobrevive.

No Brasil, a distinção se faz pelo suor. Somos a última nação ocidental pretensamente civilizada a abolir o trabalho escravo. Isso há pouco mais de 100 anos. O escravo era os pés e as mãos do seu senhor. Seus braços e pernas. São conhecidas as gravuras do período colonial em que vemos escravos carregando o senhor em sua liteira, vestido como se europeu fosse, abanando-se ou sendo abanado. Acaso estivesse esse senhor andando pelas próprias pernas, suportaria o calor em sua casaca de veludo?

Vai embora a casaca mas em seu lugar fica o terno (e sua extensão feminina, o tailleur – um avanço na praticidade na época de Coco Chanel, mas um forno de Bier volante para a brasileira). Somem as liteiras, e as ruas ocupam-se de carros. O espaço externo, que pode ser frequentado pelo povo, não é a extensão da liberdade da Casa-Grande, mas da Senzala, portanto pode ser descuidado, destratado. Tal como vaticina Alexis de Tocqueville, que afirma que o maior inimigo do cidadão é o indivíduo, o individualismo do paulistano que prefere o espaço privado ao público é a negação da construção republicana, da res publica, da coisa pública, ou seja, do espaço onde a pessoa deve participar enquanto simplesmente ser humano, e não enquanto membro de uma classe social.

Sintomaticamente, o meio profissional mais resistente à flexibilização das regras rídigidas relativas às vestimentas é o setor jurídico. Assim como os juízes ingleses não apenas trajam togas, mas também as perucas brancas do século XIX, o Poder Judiciário no Brasil resiste à abolição do terno. No Rio Grande do Sul a obrigatoriedade não mais existe – apenas por uma característica particular do estado, onde a pilcha instituiu-se como traje de honra em qualquer evento não podendo o gaúcho que a traja ser impedido de acessar qualquer recinto público em razão disto – mas em outros estados permanece, de um modo mais ou menos rígido. No Município de São Paulo a rigidez é maior, e estende-se a outros setores da produção econômica. Poucos são os empresários ou executivos que não trajam o terno e a gravata.

E assim os ambientes onde se usa o terno necessariamente são refrigerados. As mulheres, mais sensíveis ao frio, sabem: onde há homens de terno, o ar condicionado está funcionando em sua máxima capacidade, ou então veremos pessoas passando mal de calor, como ocorria com freqüência nas dependências da Justiça do Trabalho quando funcionavam em antigos prédios da Rua Cásper Líbero, sem ar condicionado e com poucos ou nenhum elevador. Àquela época ficava uma ambulância de plantão no local, e não foi apenas um caso de morte por problemas cardíacos nas escadas dos prédios quentes. E sempre advogados, pois se as salas dos juízes muitas vezes possuíam ar condicionado, as ante-salas e o resto do prédio não. Esta mesma situação mantém-se inalterada em diversos fóruns do interior de São Paulo.

Diante deste panorama, não é de espantar que pessoas prefiram ficar presas dentro de seus carros. O vidro fechado com o ar condicionado ligado cria o micro-clima que permite o paulistano sobreviver usando as insígnias da classe social. Não apenas isso, permite uma maior mobilidade (questionável esse aspecto no que tange aos fatos, mas é essa a impressão que o motorista possui), e acesso a outros lugares que não acessíveis à massa sem quatro rodas. Neste sentido, esse post aqui é exemplificativo: ponto de ônibus mistura, portanto inclui, o que não é desejado pelos partidários da exclusão social.

E assim, em nome das distinções de classe, o automóvel permanece como paradigma de status social na cidade de São Paulo, reforçado pelas convenções sociais relativas ao vestir-se, ao conviver com o outro: dress c0des que reproduzem e reafirmam as hierarquias sociais que, aqui no Brasil, ainda reproduzem a estratificação dos tempos coloniais, pois vestem-se adequadamente ao clima tropical os mais pobres (com suas deselegantes mas confortáveis bermudas largas e camisetas regata), os mais ricos trajam-se como se estivessem em Dublin ou Estocolmo, mudando (refrigerando) o clima ao seu redor par fingir que estamos na Bélgica quando estamos na Índia.

Em tempo: para ficar claro, não é o automóvel ou a moda que criam as distinções de classe. Não, são apenas produtos desta mesma distinção, pré-existente. São seu reflexo, não sua causa.

Links de interesse:

Plano Cicloviário Integrado de Santo Amaro – TC Urbes

Guia Bike da Rua, do Cleber Anderson

Transporte Ativo

Bicicletada

Vá de Bike

Gata de Rodas

ONU – iniciativa pelo não uso da gravata como combate ao aquecimento global

Paletós, Gravata e Shorts – New York Times

Racismo Ambiental – entrevista em 3 partes com Paulo Saldiva, professor titular da Faculdade de Medicina da USP

Centro comercial recém-inaugurado revela-se inimigo de ciclistas e pedestres

Reproduzimos aqui no blog texto produzido pelo nosso amigo Uirá Lourenço, cicloativista que sempre nos envia muitos informações legais pertinentes ao cicloativismo. O texto é de 7 de abril de 2010, e fala sobre a triste realidade que o novo shopping Iguatemi traz para ciclistas e pedestres de Brasília.

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No dia 31 de março, pedalei pela via do Lago Norte (Estrada Parque Península Norte, DF-009) até o Iguatemi, inaugurado no dia anterior. Apesar da distância curta (cerca de quatro quilômetros de onde eu estava), o trajeto não foi dos mais fáceis e não recomendo a ciclistas sem experiência no trânsito selvagem do dia a dia.

Saí do final da Asa Norte (próximo aos supermercados Extra e Carrefour), peguei parte do Eixão Norte, ponte do Bragueto e, então, a via de acesso ao Lago Norte. Em nenhum momento, pude desfrutar de qualquer facilidade ao ciclista (ciclofaixa, ciclovia nem calçada compartilhada).

Na chegada ao shopping, a primeira surpresa: o acesso de pedestre não está pronto. Contornei o terreno e avistei o estacionamento. A placa próxima à entrada sinalizava para carros (“valet”) e motos.

Acesso de pedestre em construção

Sinalização para usuários de moto e carro

Um ser de bicicleta deveria ir para que lado? Entrei no primeiro acesso ao shopping e avistei um rapaz. O diálogo com o funcionário responsável pelo acesso ao estacionamento foi emblemático:

Eu: Boa noite. Vou ao shopping. Tem vaga para estacionar minha bicicleta?

Funcionário: Aqui nessa parte não tem.

Eu: Então, onde posso parar?

Funcionário: Essa área é a internacional. Não tem lugar pra bicicleta.

Eu: Internacional, como assim?

Funcionário: É, por causa da Luis Vuiton. É área de acesso à loja.

Eu: Se não tem vaga na área internacional, onde posso parar?

Funcionário: Dá a volta e vê se tem na outra parte.

Pedalei até a outra parte do estacionamento. Procurei vagas para bicicletas, mas não as encontrei. Decidi voltar para a entrada e conversar, novamente, com o funcionário do shopping. Antes de encontrá-lo, avistei uma placa na entrada do estacionamento internacional e desisti de ter outro diálogo, afinal a placa é muito clara: bicicletas não são bem-vindas.

No acesso ao Iguatemi, a sinalização indica a proibição de acesso de bicicletas

A administração do Iguatemi deve imaginar que usuários de bicicleta não tenham condições de consumir nas lojas de grifes internacionais. Esquecem-se que, por razões ambientalistas, urbanísticas e até por moda, o uso de bicicleta tem sido promovido em cidades de diversos países.

Não precisa recorrer a exemplos do exterior para constatar que o acesso a lojas pode ser mais democrático, de forma a possibilitar o acesso de ciclistas. Aqui na capital federal, o Conjunto Nacional dispõe, há mais de um ano, de vagas gratuitas e cobertas para bicicletas. Foi feita, inclusive, campanha de estímulo ao uso de bicicleta.

Bicicletário coberto e gratuito do Conjunto Nacional

Considerando que o Iguatemi foi construído pela construtora do empresário e ex-governador Paulo Octávio e que o GDF prioriza os modos de transporte coletivo e não motorizado, segundo o discurso repetido em eventos e divulgado em anúncios publicitários, era de se esperar que fossem reservadas vagas gratuitas e cobertas para os usuários de bicicleta.

Infelizmente, a área internacional do Iguatemi não teve como inspiração a Holanda ou Dinamarca, países que notadamente incentivam o uso de bicicleta.

Acostamentos cicláveis e criação de terceira faixa para carros

Não bastasse a proibição de acesso ao shopping, o ciclista enfrenta dificuldades ao trafegar na via que passa pelo Lago Norte, a Estrada Parque Península Norte (EPPN), DF-009.

O chamado acostamento ciclável (nome dado pelo governo ao espaço reservado aos ciclistas nos acostamentos de algumas vias) só começa a cerca de 500 metros do shopping e não segue até o final do Eixão Norte (DF-002). Em frente ao centro comercial não existe sequer o acostamento “normal”. Apesar de o governo qualificar como ciclável o espaço no Lago Norte, o código de trânsito já prevê a circulação de bicicletas no acostamento, sem necessidade de qualquer obra: “acostamento - parte da via diferenciada da pista de rolamento destinada à parada ou estacionamento de veículos, em caso de emergência, e à circulação de pedestres e bicicletas, quando não houver local apropriado para esse fim”.

O acostamento que existia no Lago Norte cedeu espaço para a terceira faixa de circulação de carros, do shopping Deck Norte até a ligação com o final do Eixão.

Em ambos os lados da via, o acostamento virou terceira faixa para carros

Os ciclistas que passam pelo Lago Norte enfrentam outras dificuldades. A imprudência e o excesso de velocidade dos motoristas são facilmente observados. Em meia hora, mais de vinte carros invadiram o acostamento. O limite teórico de velocidade na via é alto – 70 km/h – e dificulta a convivência entre ciclistas e motoristas, especialmente nos locais sem acostamento. É fácil constatar que, apesar de alto, o limite de velocidade não é respeitado por muitos motoristas.

Limite de velocidade de 70 km/h ao longo da EPPN

Ao eliminar o acostamento na via do Lago Norte e criar a terceira faixa, o governo local faz uma escolha bem clara: põe em risco a vida de ciclistas para oferecer maior fluidez aos motoristas. Apenas neste ano, pelo menos seis pessoas já morreram em vias do Distrito Federal enquanto pedalavam, quatro apenas no mês de março. Os dados têm como fonte notícias divulgadas pela mídia local, pois os dados do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) estão desatualizados e vão até o mês de dezembro de 2009. Os números de mortes nas vias do DF até março de 2010 não estão disponíveis no sítio de internet nem na assessoria de comunicação do órgão de trânsito.

Apesar das mortes e dos ferimentos frequentes de ciclistas, decorrentes da falta de condições propícias às pedaladas, o órgão de trânsito não possui campanha voltada especificamente ao uso da bicicleta como meio de transporte. “Não tem nada voltado ao ciclista, não temos ação prevista. No momento, estamos focados no pedestre, em função do aniversário da campanha da faixa de pedestre”, afirma Maria da Penha, assessora de comunicação do Detran-DF.

A sinalização dos acostamentos cicláveis do Lago Norte está incompleta e não corresponde ao previsto no projeto inicial. Segundo o informativo do Pedala-DF distribuído em março de 2009, os pontos de conflito entre ciclistas e motoristas estariam destacados com pintura vermelha.

O gerente do Programa Cicloviário do Distrito Federal (Pedala-DF), Leonardo Firme, foi procurado por e-mail. Foram enviadas perguntas sobre as condições de segurança aos ciclistas na via que passa pelo Lago Norte. No entanto, não houve respostas.

Em pontos de ônibus e acessos a quadras (pontos de conflito), falta pintura vermelha no asfalto

Segundo o material informativo do Pedala-DF, distribuído em março de 2009, os acostamentos do Lago Sul e do Lago Norte possuem marcação vermelha nas zonas compartilhadas com automóveis e ônibus

O discurso do GDF de priorização do transporte não motorizado e o fato de haver uma gerência (Pedala-DF) apenas para tratar da mobilidade por bicicleta não resistem a uma breve caminhada pela cidade. É fácil constatar que pedalar e caminhar em Brasília, mesmo na área central, são tarefas árduas. A mega-frota motorizada (segundo o Detran-DF , a frota já chega a 1 milhão e 162 mil carros) ganha mais espaço por meio das diversas obras viárias projetadas e em execução. A prioridade ao automóvel que ocorre na prática contraria diversas leis em vigência no Distrito Federal, inclusive a Lei Orgânica, que preveem justamente a prioridade ao transporte não motorizado (confira abaixo).

A meta inicial de 600 km de ciclovias, que seriam entregues até 2010, certamente não será alcançada. E o Plano Piloto, que concentra a maioria dos empregos e dos deslocamentos diários, ainda se caracteriza pelas vias expressas e pela carência de vias e segurança para ciclistas. O projeto do governo que pretende disponibilizar estações para aluguel de bicicletas, previsto inicialmente para o ano passado, também não saiu do papel.

Legislação pró-ciclista

Em tramitação na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o projeto de lei nº 2103/2005 pretende obrigar a instalação de bicicletários (locais com vagas de estacionamento para bicicletas) em lojas, supermercados e centros comerciais. O projeto já passou por análise nas comissões permanentes e aguarda aprovação dos deputados em plenário.

Já em vigência, a lei distrital nº 4.397/2009 criou o sistema cicloviário do Distrito Federal e prevê incentivos ao uso da bicicleta. No artigo segundo, a lei afirma que o sistema será composto por dois itens: rede viária para o transporte por bicicletas, formada por ciclovias, ciclofaixas, faixas compartilhadas e rotas operacionais de ciclismo; locais específicos para estacionamento: bicicletários e paraciclos.

Outras leis distritais que estimulam o uso da bicicleta podem ser citadas: Lei n° 3.639/2005, que impõe a criação de ciclovia em rodovias; Lei n° 3.721/2005, que institui oficialmente a Jornada Na Cidade sem Meu Carro e o Dia da Mobilidade e Acessibilidade em favor do uso da bicicleta; Lei n° 3.885/2006, que assegura a política de mobilidade urbana de incentivo ao uso da bicicleta; Lei n° 4.030/2007, que cria o Dia do Ciclista (26 de outubro) e prevê a realização de eventos, como debates e palestras, com o objetivo de difundir o uso da bicicleta; Lei n° 4.216/2008, que permite o transporte de bicicleta no metrô.

De forma semelhante, nossa Lei Maior, a Lei Orgânica do Distrito Federal, prevê a priorização do transporte não motorizado. O capítulo sobre transporte (artigo 335, parágrafo segundo) estabelece: “O Poder Público estimulará o uso de veículos não poluentes e que viabilizam a economia energética, mediante campanhas educativas e construção de ciclovias em todo o seu território.”

Exposição com fotos da construção do St. Noroeste


O Movimento Brasília Sempre-Viva participou, no último dia 20, da 3ª edição do MOVIOLA, evento que busca promover e valorizar o Cine Brasília. Neste ano, com o aniversário de 50 anos da Capital, não poderia ser diferente!


Fomos convidados para participar e levamos ao espaço do cinema um pouco sobre o que está acontecendo em Brasília, com a construção do famigerdo Setor Noroeste, uma obra que foi aprovada na base da corrupção, e que tem destruído quilômetros de cerrado virgem, desrespeitando as leis ambientais, além de ter provocado muitos problemas para a comunidade indígena que há mais de 30 anos habita a região do Parque Burle Marx (Terra Indígena Bananal - Santuário dos Pajés).


Com o apoio da ONG Preserve Amazônia e da Pro'Active Language Institute, conseguimos montar uma exposição fotográfica com fotos de JPhilippe Bucher, Randal Andrade e Renato Zerbinato (Sociedade das Bicicletas). Intitulada "A nova corrida para o Oeste: perspectivas cinzentas de um bairro verde", a exposição divide-se em 2 partes. A primeira mostra o cerrado vivo e preservado, exuberante em sua diversidade animal e vegetal, com toda a potência de vida e medicinal. A outra parte, cinzenta, é de fotos da construção do novo "bairro verde", que já derrubou dezenas de hectares de um cerrado vivo e pleno.


A população de Brasília está cansada de tanta mentira, tanta corrupção, da sanha imobiliária que com maldade derruba o que temos de mais precioso. As consequências sócio-ambientais que a construção desse novo setor habitacional implica têm sido camufladas por uma mídia sem compromisso com a verdade, pois ela depende do governo do DF, que a sustenta com mais de centenas de milhões por ano.

Não se deixe enganar pela maquiagem verde do St. Noroeste. Busque a informação em meios alternativos, não acredite em tudo o que a TV te diz. Jornalismo não é sinônimo de verdade. Vá visitar a região e ver quantas árvores eles já não derrubaram por ali.

Release:

A NOVA CORRIDA PARA O OESTE:
PERSPECTIVAS CINZENTAS DE UM BAIRRO VERDE


No Ano Internacional da Biodiversidade a cidade de Brasília vive uma situação que fere princípios ecológicos, e toma corpo aos olhos da população: a construção de um novo conjunto habitacional na última zona de cerrado nativo da região tombada de Brasília como Patrimônio da Humanidade.

Grupos ambientalistas têm alertado para os impactos negativos do empreendimento imobiliário nos parques vizinhos (Parque Nacional de Brasília e Parque Burle Marx), além dos danos ao Lago Paranoá, com o aumento do assoreamento e do volume de esgoto despejado no lago. A polêmica foi ampliada após a divulgação de estudos que afirmam que o Lago Paranoá será o provável fornecedor de água da cidade a partir de 2011.

Apesar de seu “marketing verde”, a construção do novo bairro implica na derrubada de dezenas de hectares de uma área de cerrado até então plenamente preservada. A exposição fotográfica retrata esta incongruência nas imagens dos fotógrafos JPhilippe Bucher, Randal Andrade e Renato Zerbinato, e revela a força e a delicadeza de um cerrado que enfrenta e resiste à lógica do concreto.


Movimento Brasília Sempre-Viva

O Brasília Sempre-Viva é um movimento da sociedade civil organizada que agrega representantes de entidades ambientalistas e agrupamentos afins com vistas à preservação do patrimônio ambiental da capital do Brasil. O movimento pretende, através de ações institucionais junto aos órgãos competentes, e da promoção de eventos de caráter cultural e educativo, promover a participação da população nas decisões que afetam sua qualidade de vida, cobrando do poder público a efetiva proteção do bioma cerrado, das águas e dos recursos naturais da região.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Exibição do Documentário "Uma Mudança no Mar"


Nesta quarta-feira, dia 14, será exibido o longa-metragem documentário "Uma Mudança no Mar" (Dir.: Barbara Ettinger, 86', EUA, 2009), no Auditório 2 do Museu da República, a partir das 19h.

Após a exibição do filme haverá debate com o espanhol Daniel de La Calle, representante do filme em suas exibições no Brasil.

Catástrofe ambiental

O filme aborda o tema urgente da acidificação do mar, e as consequências para toda a vida marinha de peixes e baleias, além dos transtornos causados às populações humanas. Com imagens belíssimas dos mares da Terra, o filme é uma viagem azul às mais belas paisagens aquáticas do mundo.

O filme causou repercussão internacional e vem à Brasília, mais uma vez, para alertar a população brasileira da necessidade de preservação dos mares.

O filme ganhou diversos prêmios pelos festivais internacionais que percorreu, como o XI Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA - 2009 - Goiás), e em festivais nos Estados Unidos (São Francisco e Seattle), Havaí e em Kosovo, entre outros.

DOCUMENTÁRIO "UMA MUDANCA NO MAR"

Dia: 14 de abril (quarta)

Hora: 19h00

Local: Auditório 2 Museu Nacional da Republica

Entrada franca

Debate com o espanhol Daniel de La Calle (*), representante do filme


(*) Daniel de La Calle, espanhol radicado em Nova York, estará presente como representante do filme para o debate após a exibição, sendo esta sessão integrante do roteiro de projeções no Brasil.


Site oficial do filme:

http://www.aseachange.net/

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Movimento Pelos Parques do DF


Grupo de Samambaia se uniu para recuperar área degradada do Parque Três Meninas
Voluntários plantaram mudas de plantas típicas da flora do Centro-Oeste para recuperação do cerrado


Thaís Paranhos - Especial para o Correio Braziliense


A natureza agradece a iniciativa de moradores de Samambaia e simpatizantes das causas ambientais. Vinte voluntários plantaram ontem cerca de 100 mudas de espécies nativas do cerrado no Parque Três Meninas. Eles criaram o Bosque do Cajuzinho e trabalharam durante toda a manhã na segunda etapa do projeto de recuperação de parte da área degradada do parque. A iniciativa é do Movimento de Resgate do Parque Três Meninas, criado há um ano para atuar com a comunidade em prol da revitalização e preservação do espaço. Também participaram membros do grupo Cerrado Vivo. Entre as espécies plantadas, havia mudas de jenipapo, cajuzinho-do-cerrado e alguns tipos de ipês. O local faz parte da Área de Relevante Interesse Ecológico Juscelino Kubitschek (Arie JK).

Localizado na QR 609/611, o Parque Três Meninas tem 72 hectares e pode proporcionar à comunidade atividades de lazer e convivência com a natureza, mas hoje sofre com a falta de manutenção. Em 2007, o GDF garantiu a liberação de R$ 467 mil para a construção de guaritas, banheiros, quadras poliesportivas e sinalização. Até hoje a revitalização não saiu do papel e o mato alto tomou conta do espaço. O parque é dividido em três partes: uma área de preservação ambiental, outra destinada a atividades culturais e educativas e uma terceira, voltada para o lazer da população.

Uma das coordenadoras do movimento, Iolanda Rocha, aponta como o principal problema enfrentado pelo parque o abandono da administração. “Nós entendemos que esse descaso é intencional, porque existe dinheiro para cuidar disso aqui”, revolta-se. Os quatro coordenadores do movimento criaram o grupo para devolver a área de lazer à comunidade, com trilhas, pistas de cooper e toda a estrutura necessária que um parque deve oferecer aos usuários, além de recuperar a área de cerrado que foi degradada e garantir a preservação da vida ecológica. O professor universitário aposentado Jacy Guimarães trabalha hoje com educação ambiental e preservação da fauna e da flora do cerrado. “A situação do planeta é tão séria e nós estamos perdendo muita biodiversidade. Então resolvi doar o resto da minha vida por essa causa”, diz o professor que dedica os dias para recuperar o bioma em algumas áreas do Distrito Federal e do estado de Goiás. Jacy acredita que a comunidade não sabe a importância que o cerrado tem e simplesmente o ignora. “A natureza é sábia. Quando eu planto uma muda, pergunto onde ela quer ficar”, conta o professor que se diverte ao dizer que as pessoas o chamam de doido por causa disso. Ele levou mudas de lobeira, ingá e jatobá-do-campo para serem plantadas ontem.

Preocupação
- A estudante Renata de Castro, 17 anos, moradora da Asa Norte, sempre se preocupou com as questões ambientais e conheceu o Movimento de Resgate do Parque Três Meninas ao participar de uma manifestação na Esplanada dos Ministérios do grupo Cerrado Vivo. “Me interesso muito por esse assunto e sempre dou uma força quando a iniciativa gera um bem maior”, diz. A também estudante Nayara Dias, 19 anos, moradora de Samambaia, conheceu os membros do movimento por meio de uma rede de relacionamentos na internet. “Samambaia é muito rica em termos ecológicos. Temos três parques na cidade e precisamos preservá-los”, invoca. Segundo a assessoria de imprensa da Administração Regional de Samambaia, o orçamento destinado à recuperação do Parque Três Meninas foi aprovado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, mas o dinheiro não foi liberado para o início das obras. Ainda de acordo com a assessoria, o órgão tem conhecimento do problema no espaço e apoia a comunidade, mas afirma que não tem autonomia financeira para atuar na revitalização do parque. Ninguém do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e da administração do parque foi encontrado pelo Correio para comentar o assunto.

Para saber mais


Antiga chácara
A Lei Distrital nº 576 de 1993 determinou a criação oficial do Parque Três Meninas. Na década de 1960, a área era ocupada por uma chácara que tinha o mesmo nome por causa de três casas de bonecas construídas pelo proprietário para as filhas. A área se tornou propriedade do governo na década de 1980 e, logo depois, passou a ser utilizada como escritório para a distribuição de lotes para a construção de Samambaia. Após a fundação da região administrativa, em 1989, a chácara chegou a abrigar a extinta Casa da Cultura, uma escola classe, um posto de saúde e um assentamento.

Algumas das espécies plantadas pelo grupo


Ipê-amarelo - Há várias espécies de ipê-amarelo plantadas pelas ruas do Distrito Federal, que pouco se diferenciam umas das outras. Elas podem ser vistas nos eixos rodoviários Norte e Sul, Eixo Monumental, Esplanada dos Ministérios, Setor Militar Urbano (SMU), Parque da Cidade entre outros. Algumas espécies se mostraram bem adaptadas a solos mais pobres. No DF, durante o período chuvoso, o ipê-amarelo perde todas as folhas, que reaparecem na época da seca.

Lobeira
- A espécie de nome científico Solanum lycocarpum leva esse nome porque o fruto serve de alimentação para os lobos-guará. A árvore tem tronco áspero e em tons de amarelo, e a copa fica verde durante todo o ano. Com aproximadamente 2cm de comprimento, as flores roxas aparecem antes do mês de março, quando os frutos começam a amadurecer. O alimento do lobos-guará tem uma polpa amarelada, muito usada para a fabricação de doces caseiros.

Cagaita
- A cagaiteira (Eugenia dysenterica) é uma árvore típica de cerrado e cerradões e pode ser encontrada em estados das regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste do país. As flores brancas da espécie têm atém 2cm de diâmetro e costumam aparecer em agosto e setembro, seguidas da frutificação. A cagaita costuma amadurecer nas primeiras chuvas. O fruto pode se consumido in natura e também é muito usado na fabricação de sorvetes, sucos e geleias.